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O que nos ensina a gentileza sobre comunicar melhor? Susana Coerver

September 10
54 mins

Episode Description

Vale a pena ser bom? Ou, num mundo cada vez mais polarizado, ser bom é quase um luxo ingénuo?
Vale a pena parar, ouvir, acolher a diferença, quando tudo à nossa volta parece empurrar-nos para trincheiras de preto e branco, de certezas absolutas, de opiniões gritadas sem tempo para reflexão?
É a velha questão da comunicação: comunicar é conquistar? Ou comunicar é escutar, é abrir espaço, é criar pontes?

Neste episódio do Pergunta Simples viajamos pelo território onde a comunicação se encontra com a liderança, com a vida em equipa, com as nossas escolhas pessoais e até com a forma como a sociedade se organiza. Não é apenas uma conversa sobre empresas ou carreiras — é uma reflexão sobre como nos podemos relacionar melhor uns com os outros. Porque comunicar é isso: um exercício constante de traduzir complexidades em algo que faça sentido, que crie entendimento, que nos permita avançar juntos.

Falamos de como a bondade, longe de ser fraqueza, pode ser uma das mais poderosas ferramentas de comunicação. Num mundo em que agressividade gera agressividade, insistir na gentileza é uma forma de resistência. E aqui surge a primeira li��ão clara desta conversa: comunicar com generosidade abre espaço para que o outro se revele. Não se trata de convencer, de impor, mas de criar condições para que as diferentes vozes se sintam seguras para participar. Quantas vezes o mais inteligente da sala é precisamente quem está calado? Quantas vezes falhamos por não saber ouvir?

A segunda lição está ligada à liderança. Durante décadas acreditámos que o líder tinha de ter todas as respostas, que era quem decidia sozinho o rumo de uma organização. Mas hoje sabemos que não é assim. Liderar é criar o espaço certo para que os talentos floresçam, para que as diferenças se transformem em riqueza coletiva. É perceber que nem todos têm o mesmo perfil — há os criativos, os analíticos, os voluntariosos, os pragmáticos. O desafio da comunicação está em conseguir juntar tudo isto sem deixar que as diferenças se transformem em guerra. Liderar é sobretudo comunicar com clareza, com humildade e com sentido de propósito.

A terceira lição desta conversa leva-nos ao campo mais pessoal: a comunicação começa em nós. O sucesso não é apenas a carreira, os títulos, os lugares conquistados. O sucesso é a forma como alinhamos a nossa vida com os nossos valores e como conseguimos comunicar esse alinhamento ao mundo. É saber parar para pensar, redefinir o caminho, mudar de opinião quando necessário. É ter a coragem de arriscar, mesmo com medo, e de partilhar histórias que toquem os outros. Porque comunicar não é despejar conteúdos — é ressoar no coração de quem ouve.

No fundo, este episódio é um convite a repensar o que significa comunicar num tempo em que as redes sociais alimentam a polarização, em que os algoritmos reforçam bolhas e em que a pressa parece ter substituído a escuta. Mas também é uma janela de esperança: se acreditarmos na inteligência coletiva, se soubermos envolver todos — dos chefes aos “índios”, dos entusiastas aos críticos — podemos criar um verdadeiro sentimento de pertença, uma cultura de colaboração que faz nascer soluções mais fortes, mais rápidas e mais humanas.

Ao longo desta conversa, fica claro que comunicar é muito mais do que falar. É criar condições para que os outros possam falar. É abrir espaço para a diversidade de perspetivas. É ter a humildade de admitir que não temos todas as respostas. E é, acima de tudo, não esquecer que por trás de cada cargo, de cada função, de cada etiqueta, há sempre uma pessoa — com medos, com sonhos, com valores, com a sua própria história para contar.

Se quisermos resumir: comunicar melhor passa por três gestos simples mas transformadores — ouvir mais do que falar, explicar sempre o porquê e alinhar a nossa vida com o que realmente tem significado. É isso que dá credibilidade, é isso que dá força à palavra, é isso que distingue um comunicador de alguém que apenas emite sons.

É sobre tudo isto que falamos neste episódio do Pergunta Simples, com Susana Coerver. Uma conversa sobre comunicação que é também uma lição de vida.

Ouça até ao fim. Partilhe connosco o que ressoou em si. Subscreva o canal para não perder nenhum episódio e visite perguntasimples.com, onde encontra mais conversas, mais ideias e mais caminhos para comunicar melhor.

No fundo, esta conversa deixou-nos três pistas essenciais: comunicar melhor começa pela gentileza, porque só ela abre espaço para a diferença; exige humildade na liderança, para ouvir e integrar talentos diversos; e pede um alinhamento com os nossos valores, para que as palavras tenham peso e verdade. Talvez não possamos mudar o mundo inteiro, mas podemos mudar a forma como olhamos para o outro — e isso já é uma revolução silenciosa.

O Pergunta Simples é isso mesmo: um espaço para pensar a comunicação como arte de viver. Se esta conversa lhe abriu perguntas ou lhe deu ideias, partilhe connosco. Pode ver ou ouvir todos os episódios no YouTube, Spotify, Apple Podcasts, RTP Play e em perguntasimples.com. E já sabe: subscreva, ative o sino e acompanhe-nos todas as semanas. Porque comunicar melhor é viver melhor.

LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO

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Viva Susana Curver, Mark Tier, comunicadora. Sente-se o quê hoje?
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Muitas coisas. Hoje tenho dificuldade em descrever-me. Eh, talvez assim a coisa que eu me
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identifico mais é uma tradutora de complexidade, talvez. Então, e como é
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que neste mundo, cada vez mais complexo, cada vez mais difícil, como é que nós pegamos nessa complexidade eh que parece
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cada vez acelerar mais e torná-la inteligível para para quem tem muita
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coisa para fazer e e muito para correr? Com kindness, com kindness.
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Podemos, consigo dizer em português, não peça para dizer isso em português. Então eu vou arriscar bondade e eh
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generosidade em relação aos outros. eh traduziria como gentileza gera
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gentileza, que é um lema do Rio de Janeiro. Gentileza gera gentileza.
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Há aí umas raízes familiares seguramente do do Rio de Janeiro também. Eh, quer dizer, o meu pai era americano,
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eh, e dos 30 países onde viveu, o que gostava mais era o Brasil e acabou por decidir ficar no Rio de Janeiro.
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E sente brasileiro. Então, a generosidade gera generosidade. Dá-me a ideia que o mundo hoje em dia, eh, até
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na maneira como como comunica nessa agressividade, pelo contrário, parece
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que estamos no caminho contrário, que é agressividade gera agressividade.
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Então, como é que como é que conseguimos criar esse conceito e pegar essa doença
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às pessoas que é da generosidade, da bondade, da do ser simpático com os
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outros? Eu tenho a certeza que o Jorge não leu o meu post do LinkedIn, mas era
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precisamente sobre isso e gerou-se até uma conversa bastante interessante
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que era eh sobre parece que só temos duas cores, agora é o branco e o preto.
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Parece que independentemente do tema que se tem em cima da mesa, nós temos que escolher um polo, como se não existissem
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outras outras cores pelo meio. Acabaram os cisentos, acabaram os amarelos, acabaram as cores laranjas, temos só
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branco e preto, não? E eu tento todas as todos os dias fazer
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com que existam mais cores. Aliás, no domingo é o meu aniversário e a minha festa vai ser color block, precisamente
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inspirado para que não haja só preto e branco. Hum, mas houve houve comentários
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muito interessantes e houve outras pessoas que que partilham da mesma ideia e esta ideia é de que é também de uma
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máxima que trouxe do Brasil. que eu trouxe lá da minha vida lá trouxe várias e uma delas é: “Prefiro ser uma
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metamorfose ambulante do que ter uma velha opinião formada sobre tudo que é de Raul Seixas, que é nós abrirmos-nos
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para mudar de opinião e não termos só certezas absolutas.
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A a certeza às vezes é um dá-nos coragem, é por aqui que vou seguir. Mas a humildade de perceber que há outras
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formas de pensar eh é o que nos traz a oportunidade de sermos mais kinds. Isso
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obriga-nos a ouvir, obriga-nos a parar e num ritmo a que nós estamos, como
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dizias, eh tá cada vez mais desafiante este desafio de pedir às pessoas para
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parar e pensar um bocadinho no que estamos a fazer. Como é que tu estimulas as pessoas para que elas tenham primeiro consciência
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disso e depois que sejam mais generosas? Então, numa das das perguntas, houve um
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dos comentários que dizia: “Sim, concordo com isso. Há vários, há vários
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tons, mas eh aquilo que sinto é que quando falo com as pessoas, as pessoas
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só ficam muito agarradas à sua ideia e nós não conseguimos trazê-las.
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O facto de nós apresentarmos outras cores não significa que nós temos que impor. Nós só estamos a dar a nossa
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opinião e não temos que dizer com que o outro fazer com que o outro concorde com ela. Tens ideia de onde é que pode vir a
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resistência? Porque em princípio a ideia de eh ser bom, no fundo, apetece-me perguntar-te,
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vale a pena ser-se bom? Eu acho que vale a pena ser-se bom todos os dias e nós todos os dias temos a
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oportunidade de de o fazer. Eh, e vout-e dar um exemplo que é eh às vezes eu em
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alguns encontros ou ou em alguns momentos, porque eu de repente comecei a pensar como é que eu podia pôr isto em prática e o ano passado organizei alguns
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eventos que que eram organizados por mim. De repente, um dia, eh, num sábado,
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numa sexta, decidi, olha, no próximo fim de semana vou organizar um pequeno almoço que é à mesa com a mudança. Isso
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é um momento de reflexão. E desafiei e de repente apareceram 30 pessoas e nós fomos falar sobre,
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ficamos a a debater ideias e parar e refletir sobre aquilo que andamos a fazer. Hum. E e um dos h
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dos tópicos era precisamente esta capacidade que nós temos de de parar e
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de pensar, mas também de ouvir o outro e perceber que sobre um mesmo tema
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apresentamos um vídeo e sobre o mesmo tema há não sei quantas opiniões diferentes. Mas em princípio isso não é mau.
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Vem é em princípio isso é ótimo. Só que nós não nos abrimos normalmente. É. a
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opinião do outro. Porquê? Porque muitas das vezes nós apresentamos como certezas. E aquilo que eu acho é aquilo
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que eu acho que tá a fazer com que nós fiquemos cada vez mais polarizados é que nós queremos convencer o outro da nossa
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opinião. E quando nós tentamos fazer isso de uma forma mais kind, que acolha,
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que é, deixa-me ouvir, qual a tua opinião sobre o sobre o tema? Olha, a
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minha não é necessariamente alinhada com a tua, mas é a minha. nós vimos de lugares diferentes e por isso há todo um
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histórico que tá que está para trás que faz com que as nossas opiniões sejam diferentes. E eu acredito que quando nós
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apresentamos isto de uma forma que acolhe mais o outro, é aí que nós abrimos o espaço para a diversidade e
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para a diferença. Como nós estamos mais nesta polarização, nesta guerra, não é? nesta trincheira que há nós e o outro,
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hum, deixamos de criar o espaço para que seja seguro partilhar as nossas
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opiniões. E por isso, muitas das vezes, nós percebemos na mesa que há aqueles que gostam muito de partilhar a sua
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ideia e há que ficam calados, porque nem toda a gente está à vontade para partilhar ou não se sente seguro naquele
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espaço de poder partilhar a sua opinião. E acho que isto faz parte de tudo de ser kind, que é perceber porque é que aquela
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pessoa não partilha a sua opinião. É, é ver e é ver o outro ou ouvir o outro com
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todos os sentidos. Nesses momentos, nessas mesas, nesses almoços, nessas conversas, mesmo naquele
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café a meio da manhã, no emprego, como é que podemos resgatar essas pessoas, essas que estão ali especialmente
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caladas, porque são tímidas, porque não querem discutir, porque não querem
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debater com a certeza dos outros ou porque simplesmente não há espaço para elas poderem falar? Eu
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acho que é aquilo que acabei de dizer, é nós deixarmos de estar tão centrados em
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nós, eh, para podermos parar e ver o outro, nós percebermos que porque é que há
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outras pessoas que, porque muitas das vezes nós conseguimos perceber que às vezes o mais inteligente da sala até
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pode ser aquele que tá calado. Então, se nós não criamos o espaço, é, eu acho que tudo se trata de trazer à consciência e
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nós percebermos, nós estamos a abrir espaço para que o outro fale. Estamos a ver quem são as pessoas que nunca são
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ouvidas, porque diversidade é isso, é garantir que todas as pessoas são ouvidas, mesmo aquelas que não gostam de
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falar. E às vezes nós temos que as estimular porque há pessoas que têm perfis diferentes, nem todos gostam de
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comunicar, há uns que são mais introvertidos que se calhar quando estão num ano to ano já se sentem mais à
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vontade, mas compete-nos a nós também criar o espaço para trazer essas
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pessoas. Eu já tive a oportunidade de fazer isso com algumas pessoas que diziam: “Eu não quero, eu não quero”. E
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depois no final disseram: “Ainda bem que insiste, porque depois soube-me tão bem ultrapassar a minha barreira de
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conseguir falar”. Olha, há aqui uma dimensão claramente de tomada de consciência de que está a acontecer,
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quer por um lado da ocupação de espaço, mais ou menos desse espaço, desse diálogo entre todos, mas tu és
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comunicação. [Música] Há uma dimensão de técnica, também algumas técnicas que possas partilhar
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connosco sobre como é que se desbloqueia exatamente esses os caladinhos da sala para irem em busca da sua perspectiva e
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do seu prisma, ou pelo contrário, a técnica de estarei eu a falar deais,
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ocupar demasiado espaço em relação àquilo que eu tenho para dizer e portanto se eu ocupo mais espaço, há
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menos ar para os outros poderem falar. Acho que é é um um misto dos dois. É um
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misto dos dois. E, portanto, nós os que comunicamos mais também temos que ter consciência e
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dizer: “Será que eu ocupo espaço demais? Será que a minha vontade de partilhar?” Porque porque isto também é natural. Eu
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eu normalmente tenho vontade de partilhar as coisas que aprendo, mas ao mesmo tempo tenho que pensar, bom, será
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que eh e há pouco tempo aconteceu-me isso, eu de repente pensei, bom, será que eu neste curso estou a tomar sempre
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a iniciativa e quando pedem participação e eu propositadamente fiz o exercício de me deixar para o fim.
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E, portanto, isso se calhar faz com que outras pessoas que ficavam todas contentes, resguardadas para o final,
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tivessem que se lançar, porque eu de repente ficava, não vou dizer nada à espera que ela eh se lance. E às vezes
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temos que ser nós próprios a criar o espaço, mas acima de tudo eu acho que é
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entender, hh acho que este este espaço também se cria quando nós nos
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predispomos a entender as diferenças do outro, nós percebermos que nem todos são iguais, respeitar essas diferenças, que
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nem toda a gente gosta de partilhar e ir criando aos poucos esse espaço para que as pessoas sintam esse esse conforto,
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porque a diferença pode gerar esse lá está esse desconforto e e lá está quem tem uma ideia demasiado certa sobre
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algo. Se houve algo completamente diferente, pode haver essa astringência no fundo, esse essa quase falta de ar.
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Pode ser isso, mas às vezes também pode ser só uma pessoa apaixonada sobre o tema e o outro que se sente. Portanto,
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existe aqui a a a dança dos dois lados, como dizias, que é é uma pessoa que tem muitas certezas ou é uma pessoa que é
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apaixonada por aquele tema? Porque são coisas diferentes, não é? E, portanto, nós percebermos, há um exercício que se
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faz que é o das cores, perceber que há eh perfis, quatro perfis diferentes, que
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há o amarelo, que é o comunicador, que é o que tem as ideias, há o azul, que é o mais do Excel e que fica ali na ordem e
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o amarelo é o mais criativo, o azul é o que vai eh ser o organizador e deixa-me
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estar aqui no meu canto. E eu gosto de fazer todos os dias a mesma coisa. Depois há aquele que vai ser sempre o o
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voluntarioso, que te vai sempre perguntar se precisas de ajuda, que é aquele muito bonzinho. Eh, e ser
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bonzinho é diferente de ser de ser kind, são coisas diferentes, mas é aquela pessoa que está sempre muito
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voluntariosa, que vai ajudar todos, que que é o primeiro a lembrar-se de é preciso o presente para aquele e aquele
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faz anos e não se todos nós conhecemos estes essas pessoas dão jeito, claro, ajudam muito. Só que essa essa é que é a
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grande vantagem quando nós e depois ainda há o vermelho que é o ação, resultados e drive e de repente nós
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percebemos e pá este tipo é um chato, este tipo do Excel é um chato, ou lá vem
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aquela cheia de ideias, não sei quê, já não tenho pachorra para as ideias dela. Mas quando as pessoas começam a perceber
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que há perfis diferentes e que se nós não trouxermos isto à consciência, nós vamos automaticamente tentar buscar
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sempre os mesmos perfis. Vamos buscar o perfil igual a nós. Quando nós de repente percebemos que estes perfis
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diferentes, se somados trazem a grande riqueza, eu acho que é aí que nós trazemos a magia e a riqueza da
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colaboração. Então e como é que se e gera quando h tudo corre mal e daqui a pouco estamos
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todos embrulhados numa imensa discussão? Exatamente porque embirramos com a cor da profissionalidade do outro.
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Tu tens experiência de gestão de equipas, de grandes equipas, de equipas internacionais, ainda por cima equipas que são multiculturalmente diferentes,
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que tem maneiras de olhar o mundo e de pensar. E como é que depois se gera essa
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essa tensão implícita ou explícita nesse choque de culturas e de personalidades?
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Quem nos ouve parece que quando eu estou a falar disto tudo parece que isto é fácil. Não é de todo fácil. Por isso é que eu te estou a perguntar.
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Quer dizer, porque eu estou eu estou a gostar do método, eu estou a gostar da ideia. OK, vamos ser generosos, vamos ser bons excelente. Mas que diabo! O
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tipo do Excel é mesmo um grande chato e e e lá está aquela pessoa sempre a falar da da prenda e o outro que quer dirigir
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a equipa toda e tantas seja tiver um dia bom e simpático e com grande eh com
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grande vontade de espalhar o amor e a paz no mundo, tudo que ou então não estamos todos com maneura ou há duas ou
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três pessoas com maneura e ai Jesus quem é que segura isto? Então, eu acho que no papel de quem gera
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equipas, a grande magia está em saber pôr as pessoas no lugar certo. Eh,
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porque muitas das vezes não não vamos promover o Cristiano Ronaldo
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a treinador de equipa, não é? E às vezes acontece ou muitas vezes acontece esse erro que é aquele bom profissional, de
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repente é promovido e a gestor de equipa e de repente era uma pessoa espetacular
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e deixou de ser uma pessoa espetacular porque são coisas diferentes, né? não tem grande talento para gerir pessoas. Exatamente. Ou então precisamos de
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ajudar porque nós não nascemos ensinados e estamos a passar há uma fase de
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transição. Eu também olho para trás e digo: “E pá, eu não era a pessoa que sou
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hoje, não tenho a consciência que tenho hoje.” E de repente, se calhar, numa fase inicial queria clones, não é? Eu
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própria já fui essa pessoa que de repente queria que se fizesse de uma só forma. E depois de repente houve o dia
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em que descobri o meu papel não era ter as respostas certas, era fazer, era
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conseguir criar, identificar os talentos para que as pessoas pudessem trazer as respostas certas, ainda que eu não as
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soubesse. Porque ser líder não é ou gerir uma equipa não é ter a resposta para tudo. Antes, pelo contrário, eu
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adoro contratar pessoas que sejam melhores do que eu, eh, porque é assim
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que eu faço uma equipa melhor. Portanto, eu acho que o primeiro passo é mesmo nós conseguirmos identificar os talentos e
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daí a importância de nós entendermos um bocadinho de de do ser humano, não é, da
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complexidade do ser humano, mas há momentos que são difíceis. Por isso, por exemplo, eu não gosto nada daquela
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ideia, que tipo de líder és tu? Não sei quantas almas tenho, não é? Porque depende do contexto. Há,
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mas essa é uma pergunta que que se faz muito mesmo no universo dos negócios e das empresas, que é qual é o teu tipo
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estilo de liderança, exato. Como é que exato, é uma pergunta clássica dos recursos humanos. completamente, completamente. E eu acho
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que isso não existe. Eu sinceramente acho que eh, OK, eu até posso dizer que eu gosto desta visão mais humanista de
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todos jogam, de fazer com que todos se sintam vistos e ouvidos, mas há alturas em que nós temos que tomar uma decisão.
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Ponto. E esta é assim que vamos seguir e não há cá tempo para democracias e para ouvir todos.
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Há alturas em que tem que ser assim. Quando estamos numa gestão de crise, não há tempo. Eu adoro ouvir as pessoas
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todas, mas de repente quando há um timing para cumprir, olha, se calhar esta não é a melhor decisão, mas é a
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decisão que nós vamos eh tomar neste momento e, portanto, vamos ter que seguir. Então, e depois como é que os
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líderes lidam com a expectativa e a perspectiva, lá está, das pessoas que são lideradas quando quando o padrão vai
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alterando também gera um problema dentro da própria equipa ou tu achas que isso faz parte da
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Sim, não, não entendi. no fundo e h se os chefes quando tomam
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decisões e em função daquilo que acreditam e que e que sabem que pode ser
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o que pode ser o certo, como é que lidam com o facto das suas equipas não gostarem desse dessa dessa mudança, não
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é? Então, mas esta chefe que era tão simpática, que me ouvia sobre as coisas, agora subitamente apareceu aqui no
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escritório à terça-feira ao meio-dia e agora chegou aqui, manda e desanda e já não quero ouvir ninguém e é para fazer
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como ela manda. Acho que temos sempre que ter um porquê. Nós
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temos sempre que explicar, independentemente do mapa de Excel ou daquela decisão macro, nós temos sempre
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que explicar o porquê. Porque é que nós precisamos de fazer isto? Porque eu acho que quando as pessoas entendem o porquê,
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eu acho que muitas das vezes o que falta é explicar o porquê, porque é que nós estamos a fazer isto e qual é o
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resultado que nós esperamos com isto? E nós somos bons a fazer isso. Eh, eu acho que muitas vezes não acho
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que muitas das vezes aquilo que eu vejo em algumas lideranças é que para eles está
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tão claro o caminho que se esquecem que é preciso trazer, fazer o onboarding do outro e o onboarding do outro faz com o
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porque é que nós estamos a fazer isto. E claro que nós temos perfis diferentes, nós sabemos que há, independentemente da
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empresa, há sempre estes perfis. H aquele que houve a ideia nova, Pepa
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espetacular. Bora lá, isto é incrível, não sei quê. E há aquele que vai estar Humum. Em princípio eu já sei que isto
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não dá. Ou há aquele que não vai dizer nada, mas também tá de braços cruzados.
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Ou há aquele que tá super entusiasmado, mas não é a pessoa, é mais introvertido e, portanto, não partilha o entusiasmo,
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mas vai fazer tudo o que tiver ao seu alcance para que o para que o projeto avance. E há aquele que fica no meio que
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é nem sim, nem não, preciso que me convençam. E aquilo que que eu acho que e é um dos
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temas também que eu tenho trabalhado às vezes em workshops ou palestras que faço, é liderar a mudança e trabalhar o
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tema de que somos todos líderes, porque as pessoas demitem-se, e eu acho que isto é um tema muito português, eh
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demitem-se da sua própria vida, porque e vou dar um exemplo com isto. Muitas das
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vezes as pessoas queixam-se que há falta de formação, mas eu garanto-te em na
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maior parte das empresas, se eu perguntar então qual era a formação que querias, 95% das pessoas não sabe.
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Não tem ideia nenhuma ou não quer? Não tem ideia. Não tem ideia nenhuma. E muitos, na verdade, não querem porque as
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pessoas acham que fizeram ali o seu curso, fizeram a sua licenciatura e tal e nunca mais precisam de fazer nada.
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Essas pessoas estão com a vida em perigo neste momento. O que é que lhes pode acontecer? Se se
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elas não crescerem, se elas não evoluírem, nós precisamos estar constantemente em evolução. Evolução não significa
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necessariamente fazer como a Susana que agora se foi inscrever num curso na Austrália, não é isso? É todos os dias
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nós querermos saber mais sobre tu, o que é que tu foste fazer para a Austrália? Eu estou a fazer um um MBE, um Master of
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Sympathy, Business for the Next Economy. Então, e como é que isso funciona? O que é que o que é que o que o que é que
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acontece na prática? Estás lá a falar sobre esses temas? Eh, nós pens o a
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grande missão deste deste curso é repensar a forma como nós fazemos negócios, a forma como nós estamos
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organizados em termos sociais, económicos, ambientais no nosso planeta.
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É como é que nós criamos negócios que não é que tenham zero emissões, é
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negócios que tenham impacto positivo. Impacto positivo nas pessoas que trabalham nesses negócios, nas
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comunidades que estão à sua volta e no nosso planeta. Porque eu acredito que todos nós devíamos estar preocupados em
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como é que as nossas ações têm um impacto positivo. Hum, e de vez em
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quando sinto a necessidade de ir respirar ou tresares e e ir ouvir. E
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acho que nós estamos muito expostos. Há ali um planeta à parte que se chama Austrália. Eh, porque nós estamos muito
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muito ocidentalizados, muito americanizados. H, há até alguns livros de que eu ouço
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falar lá, nem sequer se vendem eh cá, nem nas Amazonas, é difícil encontrá-los. Portanto, dá para perceber
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o quão à parte estamos. Eh, e então quis ouvir um bocadinho o que é que a outra parte do planeta pensa e tem sido de uma
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riqueza e de uma diversidade incrível, apesar de que nós todos estamos unidos
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por alguma coisa, já acreditamos que deveríamos fazer negócios com impacto positivo, mas isto começa precisamente,
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por exemplo, por analisares o teu perfil de liderança, como é que tu te relacionas com as com as diversidades
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também. Portanto, tá muito em linha com aquilo que tenho feito. Tenha trazido a diversidade de de experiências, mas
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também uma versão mais ambiental, porque eles de facto têm isso muito presente e
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eu sinto sinto-me assim uma migalha muito humilde ao pé deles nos seus
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discursos e na na relação com a terra. Para teres uma noção, falamos sobre os
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os ciclos de liderança alinhados com os ciclos da eh das estações do ano.
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Portanto, é muito curioso até isto está esta integração, esta simbiose com a
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natureza sente-se em diversos níveis, que é não não vivemos sempre no verão.
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E, portanto, nós enquanto líderes também precisamos de encontrar o nosso inverno. Este momento que eu falava que é parar e
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pensar. Não podemos estar sempre só em ação. Precisamos de parar e pensar o que é que vai ser a nossa próxima colheita.
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E acho que isso são coisas que nos faltam a todos. E nós aqui os ocidentais sempre no correcorre a tentar encontrar sempre a
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próxima coisa, mais depressa, mais depressa, com mais produtividade, com mais e há um tempo para fazer as coisas.
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Hum, o que é que o que é que nós podemos aprender com eles? Ou melhor, tu já me
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falaste aqui de vários tipos de de lideranças. Tu tens algum protótipo
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de líder ideal ou isso é uma quimera que nós podemos
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imaginar que exista, mas que é um compósito afinal de vários tipos de
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liderança ou de vários tipos de pessoa? Olha, h, eu continuo a achar que é
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difícil para as mulheres estarem em posições de de liderança, h,
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principalmente assim em cargos mais expostos. H, e posso falar do caso da
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Nova Zelândia, não é? para mim uma referência, uma mulher incrível, hum,
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que mostrou eh a sua vulnerabilidade. Hum, e com isso também foi muito, é, é
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duro estar naquela posição sendo mulher e estar sempre a ser espicaçado. Quer
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dizer, isto não mata, mas mói, não é? E às tantas dizemos: “Olha, não tenho pachorra para isto, quero continuar a
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ter a ter tempo para a minha família. E
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e eu acredito nessa para mim, e eu acho que o mundo
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precisava de uma visão mais eh mais eh
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maternal, mais feminina. E atenção que o feminino não é o o lado feminino não é exclusivo
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do do género feminino. HH porque eu encontro muitos líderes que têm esse
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muitos líderes masculinos que têm um lado feminino mais desenvolvido e é um lado de cuidado, é um lado de olhar para
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o outro. Kenas é isso, não existe sem o outro. Já pensaste? E, portanto, não estamos a cuidar disso.
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Eh, acho que não. Acho que não estamos a cuidar disso. E podemos pensar ao contrário, que é então o o que é que
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está a promover que esse género de, não quero dizer de liderança, de comportamentos mais
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agressivos, quase perdedadores, posso arriscar, sejam amplamente valorizados e
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façam com que nós olhemos para essas pessoas como aquele é que é um verdadeiro líder, aquele é que é o chefe
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da tribo ou é chefe da tribo. Já nem sequer estou por aqui. Há imensos fatores. Isto isto é
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multifatorial e quando começamos a olhar para para o sistema e de onde é que vêm todos estas todas estas variáveis, é de
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facto às vezes é difícil. E acho que quando estou no curso, muitas uma das
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palavras que digo mais vezes é overwhelmed. Quando nós começamos a fazer systems thinking e começamos a
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puxar os fiozinhos de onde é que estão todas estas variáveis, de facto é mesmo
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desafiante pensar por onde começamos. E, portanto, eu acho que temos sempre começar é pelo nosso
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pelo nosso dia- a dia. Mas mas se nós pensarmos há os mídia
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e digo redes sociais, eh, e eu acompanho-te muito perto e tento eh
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estar com os mais novos e de vez em quando até faço o exercício do algoritmo. Abram-me o vosso feed e
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mostrem-me o que é que é o vosso algoritmo e faç o que é que estão a ver, o que é que estão a ver. E há coisas muito graves. Todos nós sabemos disto.
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Já está eh já tá muito exposto. Só ainda não está é
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só só falta é ação. Aqui já podíamos ter sido mais rápidos. Só falta um curativo. Isto tem a ver com quê? Com o tipo de conteú de conteúdos a
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que eles estão expostos. os conteúdos que estão a ser gerados e nós vemos estão a ser gerados os conteúdos que
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estão a ser gerados por botes nas eleições e nós vemos em todos os países isto aconteceu. Quer dizer, em Portugal
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até achei curioso porque era um dos dos países eh falados, era Portugal com 54%
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de botes eh de um dos partidos eh muito falados que nem que nem sequer me tenho
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interesse em falar no nome. Portanto, há um antigamente era mais fácil porque era
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visível. Hoje em dia está a acontecer tudo escondido dentro de algoritmos e
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dentro dos nossos bolsos e dentro das nossas casas, não é? já não temos filhos protegidos e, portanto, há uma série de
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narrativas que eu nunca imaginei que fosse estar a ver eh acontecer
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e que são narrativas que estimulam, lá está, a polarização, o ódio, eh a o não
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respeito pela diferença do outro, a ideia de tribo, eh a ideia de a minha bolha e a tua bolha. Se nós pensarmos, é
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uma coisa para mim tão hã é que é uma coisa mesmo absurda, por
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exemplo, esta história e e nem quero dar mais palco a este tema, mas esta história da amamentação, das mulheres
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que andam aí a enganar, mas que não sabemos quem são nem quantas são, não é? Portanto, cria-se imediatamente uma
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etiqueta, uma retórica e a partir desse momento é como os bons contra passa verdade, não é? É, passa a ser
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verdade pela repetição. Sim. Eh, e às tantas o que é que é a verdade? não é? Eh, vivemos nessa,
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vivemos nesta era e, portanto, tudo isto está a provocar esta polarização.
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Olha, como é que é a tua a tua relação com com a inteligência artificial? Estás deprimidíssima ou esperançadíssima?
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Desculpa pôr, lá está, também estou polarizada. Sim. Eh, não tenho não tenho nem um lado
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nem o outro. Tenho coisas em que ela me é extremamente útil. Faço debates e às
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vezes faço este exercício mesmo de exponho a minha opinião. Sim. Sim. E às
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vezes vou no carro e vou à conversa com bot da vou à conversa com o chat GPT.
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Ah, é? E então e agora esta é a minha opinião e agora mostra-me a opinião que
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seja exatamente contrári defende uma opinião exatamente contrária à minha. Isso é interessante. Sim. Para trabalhar este lá está estes
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pontos de vista diferentes. Eh, e às vezes ajuda-me a pensar, olha, se calhar
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isto não é tão assim como eu estava a pensar. ajuda-me a abrir outros outros
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pontos, mas hh há há bocado estávamos a falar do do líder eh e eu estava a falar
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nesta visão mais eh social e nesta visão mais feminina ou matriarcal da coisa. E
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para mim um dos exemplos é o botão. O botão mede aquilo que deve ser medido,
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não mede, não é? Eh, o PIB mede a felicidade, mede a felicidade, mas e a felicidade
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mede e são, se não me engano, 30 e tal parâmetros. Um dos parâmetros que se
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mede é o teu tempo livre. Já viste ter um governo a que se preocupasse com a quantidade de
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tempo livre que tu tens? E eu suspeito que se preocupam com o tempo e a mais, da perceção do tempo a
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mais, que é se calhar podias estar a fazer outras coisas. Então, olha, há uma li algumas coisas sobre as coisas que tu
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que tu fazes e e que é o conceito de inteligência eh coletiva e no fundo de
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que duas cabeças pensam melhor e do que uma. Isso é sempre verdade. Eu eu a
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pensar que as ideias eram e vinham quando estávamos a tomar um banho e a pensar Eureca, eu acabei de descobrir a
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grande ideia e e que esta das a todos juntos se calhar pensamos pior. Como é que é para ti? pensamos melhor todos
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juntos ou ou cada um no seu no seu quanto? É mesmo curiosa essa história do banho,
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porque isso é mesmo a verdade. Comigo não acontece, mas já fiz muitas sessões
29:34
de de idiação e há muita gente que, de facto, diz que é no banho que aparecem as ideias.
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O que é que são sessões de ediação? Olha, é isto que estávamos a que estávamos a dizer. É, de repente temos,
29:45
em vez de ser o grupo de ilustres lá da empresa que decide, juntamos um grupo
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diferente, um grupo eh de de os chefes e os índios, várias áreas.
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Isso não é arriscado. Isso não é arriscado. Eu acho que para mim é para mim é a aqui tenho a certeza que é a forma certa.
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Então juntamos estas pessoas todas para ter ideias. Juntamos estas pessoas todas em torno de um desafio que precisamos de
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resolver e depois vamos fazendo. Essas pessoas vão sendo guiadas em exercícios e vamos descobrindo as formas de o
30:16
resolver. Eu posso dizer por experiência própria de o fazer com equipas que o que
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é que acontece? H, imagina agora vou dar um exemplo de
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de marketing de quando estava na Parrofá. De repente o marketing pensou naquela ideia espetacular para pôr na
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loja e de repente a loja recebe e não foi tida, nem achada e de repente dizem: “Ah, lá estão estes, mas eles nem sabem,
30:43
mas eles sabem lá se eu tenho tempo para fazer isto, não sei que mais.” Quando nós os trazemos para a sala, a ideia
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deixa de ser nossa, passa a ser de todos, é do domínio público da empresa.
30:54
E de repente o que acontece quando nós trazemos a pessoa que está na loja, trazemos a pessoa que faz o produto,
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trazemos a pessoa que que gerez uma pessoa da logística, nós conseguimos
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ter todos os ângulos da ideia mapeados e resolvidos naquela sala. Portanto, nós
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ganhamos num mundo que está tão acelerado, nós ganhamos automaticamente, se calhar às vezes três, qu meses só por
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ter juntado essas pessoas na sala. E há um sentimento de pertença, depois esta ideia também é minha. Há um sentido, as pessoas saem da sala e
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as coisas já começam a acontecer. É quase, é quase um bailado que tu não precisas de fazer a reunião para dizer a
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partir de agora vamos fazer assim, as pessoas saem e o e a magia começa a acontecer. E depois o o a probabilidade
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de sucesso é muitíssimo maior, porque a loja foi envolvida, a loja até faz, é
31:41
ela própria proativamente que nos liga a dizer qual é o resultado. Olha, tá a correr muito bem, olha isto não tá a
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correr. Porque ficaram com o canal aberto. E eu acho que isto é a forma certa de o fazer. Isso é um efeito quase
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de colmeia, de polinização, de contágio, do que é que pode ser uma ideia, do que é que pode ser uma ação de uma
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determinada organização. Sim, é um efeito de comunidade que é esse sentimento de perto.
32:05
É, é o se apetece-me perguntar-te então porque é que isso não é quase regra comum? Quer dizer, porque é que na realidade
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estruturalmente nós vemos as organizações piramidais de cima para baixo, de vez em quando for é muito simples porque existem pessoas.
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Ah, então são as pessoas quando nos perguntam no curso, então, what is a good society? E é uma
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sociedade onde não houvesse pessoas, porque depois nós temos as nossas os nossos egos, as os nossos as nossas
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pequenas quintas, os nossos poderes. E, portanto, por isso é que a cultura empresarial é tão importante. Eh, não
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adianta a cultura que a cultura que come a estratégia ao pequeno almoço, não é? Que é o que se costuma dizer, porque é isso que acontece, né?
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Há alguém que aparece e agora vou mudar isto tudo completamente e alguém diz: “Mas olhe que as coisas funcionam de uma
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outra maneira”. não é completamente. Então, e tenho que ser curiosidade de conhecer e e de ouvir a tua opinião
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sobre eh aquilo a que eu posso chamar eh os líderes informais dentro das
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organizações. Existe o chefe, existem os índios, como tu, como tu dizes, mas há algumas pessoas que nós quando entramos
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nas organizações, nas empresas, onde for, nós olhamos para elas e percebemos imediatamente que aquelas pessoas têm um
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fator de atração, de comunicação, de
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quando é a hora do café, lá está, parece parece que tem mel, não é? Que as pessoas estão ali à volta. E essa essas
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pessoas para ti são também líderes ou não? ou são apenas, enfim, parte da
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organização. Já te comecei a responder essa pergunta há pouco, quando falava naquele o
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entusiasmado que vai logo fazer as coisas. Essa é aquela pessoa que nós precisamos de identificar logo porque
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ele vai ser nós precisamos de identificar estes embaixadores que às vezes são líderes naturais, não é? Nós
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precisamos de quando apresentamos a ideia encontrar os entusiastas e precisamos de garantir que temos que os
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temos espalhados dentro da empresa. Da mesma forma, como também é importante entender aqueles detratores,
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os céticos, que eles são ótimos para identificar onde é que estão os pontos de falha, porque se nós pensarmos o crítico, nós
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normalmente pensamos: “E pá, aquele tipo é o crítico, mas nós precisamos ter críticos nas equipas.” E se nós aprendermos a valorizar, lá
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está, mais uma vez, a valorizar o papel de cada um, normalmente esta pessoa não é muito valorizada porque é o que aponta
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aos problemas, mas nós precisamos de pessoas que apontem os problemas também, não é? Porque vai nos garantir quando o
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projeto sair tá menos fragilizado. Portanto, sim, precisamos de os
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encontrar. Sim, cada vez mais as empresas têm que fazer esse papel. Mesmo se, por exemplo, se se te falar no no
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nos projetos de saúde mental, quando nós fazemos uma formação eh de
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primeiros corros eh em saúde mental, aquilo que eu digo é muitas vezes primeiros corres em saúde mental.
34:55
Sim. Portanto, não é curativos, não é cortar um dedo, não é mesmo é mesmo primeiros corros em saúde
35:00
mental. são pessoas que ajudam a todos nós poderíamos e deveríamos ter uma
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formação de primeiros corros em saúde mental, porque te ajuda a identificar, a compreender eh os sinais e os sintomas,
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mas por exemplo, muitas vezes as empresas aparecem a pedir-nos, queremos dar esta formação aos líderes, mas
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muitos dos líderes nem sequer estão para aí virados. Já ouvimos, houve uma vez uma uma CEO de uma empresa que me dizia,
35:26
Susana, quando fui apresentar aos líderes que íamos fazer isto, houve um
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que me disse logo: “Ai, credo, espero que isso nunca seja preciso”. E ela disse: “Eu percebi logo que estava a pôr
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a carroça à frente dos bois com algumas das pessoas, porque eles estão tão fechados em relação ao tema que não vale
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a pena estar a tentar”. por preconceito. Por preconceito, porque
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é que as pessoas não? Eu acho que todos nós, eh, seria muito saudável todos nós termos acesso a um psicólogo. Eh, todos
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nós temos as nossas coisas para resolver. Há pessoas que não querem
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porque têm medo do que vão descobrir. Há pessoas que já me disseram: “Olha, eu
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sei que era muito importante fazer isso, mas eu tenho medo de perceber, isto foi uma resposta que tive há pouco tempo,
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tenho medo de perceber que onde eu estou tá tudo errado e, portanto, vai-me dar imenso trabalho. Portanto, deixa-me lá
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continuar na roda do hámster e pronto, não estou muito feliz, mas olha, pôr debaixo do tapete e nem sequer
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aceitar a discutir. E por isso quando este tópico aparece logo ninguém quer, não, ninguém quer
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bloqueamos logo o tema. Mas quando falas nesses líderes, nós temos líderes para
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todos os temas e portanto eu não preciso de ir falar necessariamente com aquela pessoa que tem uma posição hierárquica,
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que eu preciso encontrar na empresa quem são as pessoas que estão mais naturalmente predispostas já ao tema. E
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essas sim podem ser os nossos embaixadores. Portanto, encontrar estas lideranças informais, seja para que tema
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for, eu acho que é extremamente útil para as para as empresas e aí compete aos líderes, aos recursos humanos,
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conseguir ir identificando quem são estes líderes naturais. Olha, interessa-me. Eu quando olho para para o
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teu percurso, vejo um percurso das agências de publicidade, um percurso da criatividade e depois uma um caminho a
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seguir com grandes empresas e subitamente tu pegas no teu para-quedas
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e lanças-te do avião e dizes: “E agora vou fazer aqui umas coisas só por mim própria”.
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Como é que foi a experiência? Como é que foi a sensação? Olha, foi um salto
37:33
quântico que eu nunca pensei que fosse dar. Eh, coincidiu também com uma altura em
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que a minha mãe estava doente e foi maravilhosa a oportunidade de poder
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estar mais próxima, mais disponível eh para cuidares, para estar com ela. Sim. E isso foi
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maravilhoso. Hum, mas foi mesmo um salto quântico a enfim,
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é difícil até pôr em palavras tudo aquilo que eu cresci e aprendi. Mas sabes aquele momento da vida em que tu
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olhas e dizes: “Bom, eu achava que era ali e de repente chegas ali e dizes:
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“Ai, então é isto?” Hum, se calhar, mas olhando para o teu currículo, tu és
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uma mulher de sucesso, uma mulher com uma carreira extraordinária, eh, premiadíssima e subitamente,
38:22
então agora vou eu fazer-te uma pergunta, posso? Claro, todas. O que é sucesso? O que é sucesso? Provavel, para mim está
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ligado à ideia de de felicidade, à ideia de conseguir algo que nos enche o coração, seguramente.
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Exato. Então, sucesso não era aquela posição, não é? Muitas das vezes eu acho
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que nós estamos tão amarrados a conceitos que estão completamente datados, o carro, a casa, a posição.
38:49
E de repente dizes, olha, aquele dia na praia, o poder estar
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como hoje estive às 11 da manhã, poder decidir ir ao ginásio, eh poder decidir
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marcar aquele almoço, ter esta liberdade e deixar de ter estas amarras, de
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repente sentimos que o dia acabou, ai estou cheio de coisas e de repente pensas, estou cheio de coisas, mas fiz o
39:15
quê de útil, de relevante? ganhaste uma vida. O impacto é que eu tive, ganhei muitas
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vidas. H, ganhei muito impacto,
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eh, impacto daquele impacto que vale, impacto na vida das pessoas. Hum,
39:32
e é quase como se tivesse começado uma vida nova. OK, eu tive durante 40 anos a
39:37
acreditar que ali era aquele sítio que eu queria estar. Ok, pronto. Então agora já venta à bolha, agora já não é nada
39:44
disto. Agora vou começar a construir um outro um outro caminho. Hã, e eu tenho
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assim vários rebrandings que eu gostava de fazer, porque a minha base continua a ser a da publicidade, da criatividade,
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do marketing. Um deles era o rebranding da crise dos 40. Eu acho que é a sabedoria dos 40 em que nós começamos,
40:03
estamos-nos nas tintas para que os outros pensam. Não, mas não é uma crise. Foi o momento em que decidi, OK, se isto
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não me serve, eu não vou continuar a perseguir este caminho. Então eu vou
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parar para pensar qual é então este novo caminho, não é? Estás no no na escola,
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no liceu e de repente dizem: “Então agora tens que decidir o que é que queres ser quando fores grande”. Então eu de repente cheguei aos 40, então
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agora vou ter decidir o que é que quer ser quando for grande. Isso foi um momento ou foi um processo? Foi uma coisa que foste,
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foi um processo. Foi um processo. Eu acho que foi acontecendo. Eu também tenho um perfil que também descobri na
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psicologia que que algumas pessoas têm, chama-se carreira pratiana. São as pessoas que se movem h pelos seus
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interesses e pelas suas paixões e não necessariamente por um cargo ou eh e
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portanto, OK, já aprendi sobre aquilo, agora quero ir aprender sobre outra coisa. E nós não somos uma coisa. E e
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infelizmente a nossa sociedade fez com que nós nos definíssemos por aquilo que fazemos. E nós somos tantas coisas, nós
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somos assim tantas cores diferentes. Então é resgatar o que é que eu sou, quais são as coisas que eu gosto e o que
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é que eu posso fazer com isto. E de repente hoje quando as pessoas me perguntam o que é que faz, eu digo bolas, esta pergunta hoje é mesmo
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difícil de responder. E portanto digo muitas coisas é a minha resposta. Então e e medo? Não se tem medo quando
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se faz uma coisa dessas? Claro que tem. Eh, claro que tem. HH E
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eu também tive, mas eu sou um bocadinho eh, aliás, eu tenho uma palestra que é o
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medo é inimigo da inovação. Eh, e se tens medo, vai com medo mesmo, mas
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arrisca. E hoje vi uma senhora numa entrevista que dizia aos 25 anos, uma
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senhora de dos seus 70 e muitos que dizia aos 25 anos houve um médico cardiologista que me disse: “Se te puder
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dar um conselho, é as pessoas vão dizer: “Take it easy”. Não, take it easy, take
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it hard. E o take it hard era faz muitas coisas, não fiques nesta coisa de E eu
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achei graça porque eu sou um bocadinho essa essa pessoa eh de ainda ontem a
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madrinha do meu filho dizer: “Ah, agora lá vai ela”. Tipo, não descansas, mas é
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isto que eu gosto e é este é este o meu perfil. E, portanto, h
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acho que o importante é nós irmos sempre fazendo a pergunta: “E agora? O que é que eu gosto? o que é que eu quero e se
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eu ligar todas elas, a parte boa é como eu fiz o o exercícios trabalhos de casa
42:39
bem feitos, tudo aquilo que eu faço está unido pelos meus valores. Eu sei quais são os meus valores principais e tudo
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está ligado. Parecem coisas diferentes, mas mas está tudo ligado. Olha, estavas a falar da da das tuas
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palestras, da das tuas tedes, daquilo que tu que tu falas. Isto é um podcast sobre comunicação. Eh, h, como é que se
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consegue ser ao mesmo tempo claro e inspirador num mundo com essa complexidade, com essa polaridade e com
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essa com essas tensões no fundo entre o nós, o eu próprio e aquilo que é a
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expectativa do mundo em relação àquilo que nós temos para fazer. Hum,
43:16
eu acho que a primeira coisa é sempre dizer que eu não vou dar ali nenhuma lição, não
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vou dizer nada que seja uma verdade, eu vou partilhar caminhos. A maior parte das vezes eu partilho histórias, hh que
43:31
para mim é a forma que eu gosto mais de aprender é com histórias e, portanto, faço dessa forma e acredito que nós
43:37
também nos conectamos mais com histórias e acho que é muito menos sobre aquilo
43:42
que eu tenho para dizer, mas mais sobre a forma como as pessoas se conectam com
43:47
as histórias e com o que aquilo lhes pode fazer sentido, como elas ressoam naquelas pessoas.
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Sim. Como é que ressoas? Que que elas pessoas o que é que essas pessoas te dizem? Ah.
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Tenho tenho muitas tenho o privilégio de ter muitas partilhas incríveis de
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pessoas que às vezes me dizem: “Olha, não tens noção o impacto que aquele dia teve na minha vida?” H, seja numa
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palestra ou em mentorias, porque eu comecei a fazer mentorias há já há 18
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anos. Primeiro porque fui desafiada, olha, fizeste esta mudança. Lá está, e a
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Susana mudança, eu podia ter uma empresa de mudanças. eh, fizeste esta mudança e
44:29
eu gostava de fazer o mesmo. Podes-me ajudar? E foi assim que que começou. São pessoas que olham para mim e dizem: “E
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pá, ela fez, como é que aquilo se faz?” Eu também gostava de fazer. Hum. E portanto, pessoas que já me apareceram e
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que dizem: “Sabes, eu uma vez quando vim, tu falaste comigo e isto aconteceu e tu disseste-me com quem é que eu devia
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falar, o que é que eu poderia fazer e aquele dia mudou a minha vida.” Eh pá, isso é espetacular sentir, não por eu me
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sentir tipo, eh, pá, eu sou incrível, mas mas não sentes essa responsabilidade de poder deixar uns ovos das pessoas
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por ajudado por ter ajudado a a encaixar no no caminho certo que a pessoa
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encontre o seu o seu caminho, mas eu acho que isso eh acontece nas palestras
45:11
como como me acontece também ao contrário com algumas pessoas que o portanto acho que tem a ver com o que
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ressoa e com o que toca na pessoa. Eu tento fazer sempre das minhas palestras
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uma forma de passar as mensagens que eu acredito que o mundo precisa, de arriscar mais, de não estarmos tão
45:29
preocupados com a opinião dos outros, de estimularmos mais a nossa criatividade e
45:34
o nosso autoconhecimento. E de acreditarmos que a nossa vida não é
45:39
para ser liderada pelos outros, mas por nós próprios. Porque quando eu não sei qual é a formação que quero fazer, então
45:45
eu estou a deixar que sejam os outros a liderar a minha vida. Olha, vamos fechar. O que é que te falta fazer no meio desta paleta de cores?
45:54
O que é que me falta fazer? Hã, qual é a ideia mais louca que está ainda
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aí na na mala para tu para tu executares? Não sei de onde é que como é que tu
46:06
fazes para para quando estás à procura dessas ideias loucas. Ficas quieta, ficas a pensar, conversas com outras
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pessoas? Não, agora não tenho porque eu estou a fazer tudo aquilo que eu gostava de
46:17
fazer. Estou é a fazer demais. Se calhar precisava de fazer um bocadinho menos. Agora de repente tenho demasiadas coisas
46:23
a acontecerem. Arranjamos sempre tempo para sarna para nos coçar, como se costuma dizer. Exato. E eu sou sou muito boa a arranjar
46:30
sarna para me coçar, mas acho que preciso de depurar um bocadinho. Hum.
46:37
Portanto, não tenho assim nada que que me que diga que me falte fazer. faz,
46:42
faz-me falta fazer mais surf. Eh, e portanto acho que as coisas que me
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fazem mais falta fazer são coisas mais pessoais, mais encontros com amigos e mais surf.
46:55
Preciso só de saber se tu tens alguma receita universal para nos livrar da canceira do dia- a dia.
47:02
A receita universal para nos livrarmos da canceira do dia- a dia é pararmos e
47:08
pensarmos sobre o que é que de facto tem significado para nós. Porque quando nós
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nos focamos naquilo que tem significado para nós, como tu dizias há pouco, as coisas que nos apaixonam, que nos
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aquecem o coração, então nós corrigimos a rota e o dia deixa de ser menos cansativo e passa a ser mais
47:27
gratificante. Susana, muito obrigado. Obrigado.

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